23 June 2007

Palavras sobram... Palavras faltam

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Porque é que o amor dispensa as palavras mas não passa sem elas?

O mito do amor vive de uma relação antagónica... as palavras sobram-lhe e as palavras faltam-lhe...
Porque o corpo tem uma sabedoria maior que as palavras, o silêncio basta entre dois enamorados. Os corpos reagem, revelam-se. Os corpos manifestam-se. Usam o olfacto, tacto, paladar, sentidos mais “palpáveis” porquanto mais carnais.
Mas no olhar nasce a cumplicidade e a audição pode ser, porventura, dispensada. Os apaixonados encontram-se no olhar, gestos, toque... num efeito de magia.
O amor tem um efeito de magia.
Para os amantes que se encontram num plano de grande reunião espiritual as palavras não são necessárias. As palavras sobram.
Mas, depois, paradoxalmente, são ainda urgentes. O amor também se apoia na loquacidade das palavras, delas se alimenta.
Os apaixonados conversam, trocam-se cartas, telefonam-se... correspondem-se. Co-rrespondência é troca, reciprocidade... de amor.
Alongam-se os apaixonados em missivas ditas ridículas, os pequenos nadas que o outro diz enleiam, o próprio nome do outro deleita... As palavras faltam.
Amo-te... quero-te... sou tua/teu... juro... prometo... valem pelo contexto retórico, não como expressões em si, porque despojadas de tão usuais. A declaração verbal, escrita ou falada, faz falta.
O amor precisa ser dito.
Contudo, não acaba o amor quando os diálogos viram silêncios, quando o vazio se instala? Um silêncio outro e o vazio confluem quando o amor termina.
Ambíguos os silêncios, ou duais? Um silêncio celestial e um outro infernal? Um dádiva e aqueloutro punição?
O silêncio é a única coisa que nunca se esgota.
Forte é a relação entre o amor e a palavra, ou a ausência dela.
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*Imagem Willis Ronis
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