23 June 2007

O Poder das Palavras

.
. .
“À memória da minha mãe, a quem muitas vezes ouvi, que já a mãe dela contava que a avó dela dizia.”
.
.

Tropeço nesta dedicatória, em mais um livro de Theresa Schedell (descoberta recente mas aliciante). Fico a pensar em quão fascinantes são os jogos de palavras, brincadeiras fugazes e/ou audazes.E outros me ocorrem…
.
“Trémulos astros…
Solidões lacustres…
Lemos e mastros…
E os alabastros
dos balaústres.”
*1

.
ou…
.
“Deambulo, perambulo, flano e borboteio, pico, repico e depenico, lambuzo, farejo e raspo. Também rapo, tiro, deixo e ponho.”
*2
.
ou ainda…
.
“O poeta é um fingidor
finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.”
*3

.
… quantos, quantos mais!

.
Palavras há que se silenciam, presas na alma, e, as outras, levianas, brotando sem pedirem licença… Ainda quando se desfazem em letras, bailam procurando novos conjuntos, outros significados…
Deslizando na mente, impondo-se no pensamento, escorrendo por entre os dedos… doces, duras, singelas, imponentes, discretas, audazes, subtis, sedutoras… Imenso o poder das palavras…
(… ou não fosse a palavra feminina, coisa de essência, quiçá…)
Rodopiam em danças promíscuas, volatilizam-se em espaços em branco, sugerem em significados velados, ocultam(-se) e desnudam(-se)… as palavras… Poderosas!
Laços, fitas, nós e pontas…
.
*1 in Violoncelo, Camilo Pessanha
*2 Mário de Carvalho
*3 in Poesias, Fernando Pessoa
.
.

No comments: