14 November 2007

NU SHU, A Escrita Secreta

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Há mais de mil anos, o imperador Song Zhezong procurou pelo reino uma nova concubina. Lu, um agricultor de certa educação e bom senso, tinha uma filha, Yuxiu, que muito intrigou o Imperador, pela sua cuidada educação. Recitava poesia clássica e aprendera a escrita dos homens, cantava e dançava, e os seus bordados eram perfeitos.
Yuxiu foi a escolhida, mas nem a sua educação esmerada a salvou da melancolia da ausência do lar da sua infância. Só e triste, Yuxiu modificou, inclinou e efeminou a escrita masculina e criou caracteres novos que nada tinham a ver com a escrita dos homens, e criou NU SHU, um código secreto, estritamente feminino, que permitia manter os laços que uniam as raparigas às suas famílias.
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“Diz-se que os homens têm corações de ferro ao passo que os das mulheres são feitos de água. Isto transparece tanto na escrita dos homens como das mulheres. A escrita dos homens tem mais de 50 000 caracteres, todos absolutamente diferentes, cada um com significado e nuanças profundas. A nossa escrita de mulheres tem talvez 600 caracteres, que nós usamos foneticamente, como os bébés, para criar cerca de 10 000 palavras.
A escrita dos homens demora uma vida inteira a aprender e compreender. A escrita das mulheres é algo que assimilamos em raparigas, e confiamos no contexto para deduzir o significado. Os homens escrevem acerca do reino exterior da literatura, das contas e das colheitas; as mulheres escrevem acerca do reino interior das crianças, das tarefas diárias e das emoções.”
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Lisa Lee, in O Leque Secreto
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O Leque Secreto, uma escrita no feminino, é um relato duro e minucioso de todo o ritual de enfaixamento dos pés. Porque o homem se revia, em termos fálicos, num pé feminino pequeno e perfeito, o enfaixamento, demorado percurso de sofrimento, tantas vezes doença, e por vezes morte, tinha como fim único agradar ao homem escolhido e conduzir à felicidade.
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3 comments:

náufrago do tempo e lugar said...

Difícil comentar.

Creio que o perfil caracterológico, tanto do homem como da mulher (estados de alma ou “de coração”, bondade, firmeza, coerência nos actos, emoções, etc), não poderá/não deverá ser definido através da forma como cada um dos sexos criou os caracteres gráficos. :) Nem o texto em causa pretende que o seja, bem entendido. Por isso digo da dificuldade de comentar. :)

Embora a fonte da união seja, também, a diferença, segundo Heraclito de Éfeso, penso que as divergências entre os dois sexos se prendem, no essencial, às particularidades anatómicas e fisiológicas que os distinguem e não aos tipos de comportamento. Creio que as maiores diferenças estão sedeadas no comportamento inadequado do homem ao não permitir – ou permitir a muito custo – a igualdade de género, tão propalada nos fóruns internacionais, mas tão incumprida, ainda, nos tempos de hoje, até nos chamados povos do “Ocidente”.

Abraço.

José Manuel Vilhena said...

Passei por cá,aliás, já tinha visitado o blog de raspão numa outra altura. O texto é muito bonito e a informação preciosa.
Obrigado pela referência.

Um beijinho

teresamaremar said...

Calculei que achasse curioso. E porque Lisa Lee não me parece uma autora que os homens leiam :), achei que não conheceria o texto.

Um beijo