18 December 2007

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Velho Menino-Jesus que me vens ver
Quando o ano passou e as dores passaram:
Sim, pedi-te o brinquedo e queria-o ter,
Mas quando as minhas dores o desejaram...
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Agora, outras quimeras me tentaram
Em reinos onde tu não tens poder...
Outras mãos mentirosas me acenaram
A chamar, a mostrar e a prometer...
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Vem, apesar de tudo, se queres vir.
Vem com neve nos ombros, a sorrir
A quem nunca doiraste a solidão...
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Mas o brinquedo... quebra-o no caminho.
O que eu chorei por ele! Era de arminho
E batia-lhe dentro um coração...
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Miguel Torga, in Diário III
Imagem, Albrecht Dürer. Virgem com o Menino, 1489
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2 comments:

náufrago do tempo e lugar said...

Natal

Foi tudo tão pontual
Que fiquei maravilhado.
Caiu neve no telhado
E juntou-se o mesmo gado
No curral.

Nem as palhas da pobreza
Faltaram na manjedoira!
Palhas babadas da toira
Que ruminava grandeza
Do milagre pressentido.
Os bichos e a natureza
No palco já conhecido.

Mas, afinal, o cenário
Não bastou.
Fiado no calendário,
O homem nem perguntou
Se Deus era necessário…
E Deus não representou.

Miguel Torga, Diário V (25DEZ1950)


Boa-noite!

Zénite said...

Circular é o tempo e simultaneamente oblíquo. Assim o Natal. Sinónimo de frio e de calor. Calor humano sobre o frio que célere corre lá fora com o vento, a chuva e a neve. Sinónimo, também, de alegria, saudade, tristeza e nostalgia, numa aliança entre passado e presente, pois que na noite de Natal os nossos entes queridos que já não estão presentes vêm até nós, no seu amor de silêncio e luz, e sentam-se connosco à mesa.
Por toda esta mescla de sensações, considero o Natal uma quadra alegre e ao mesmo tempo triste.
Hoje, deu-me para isto.
Votos de um Natal tranquilo junto dos que te são queridos.

P.S.: o comentário apagado era meu. Continha um erro.