15 April 2008

.
.
.
.
.
.

Como é que se despe um corpo?
.
.
.
.
.
Não precipites a resposta, não lances já as mãos inquietas sobre a roupa. Demora-te.
Começa pelo princípio. Pergunta primeiro: o que é despir um corpo?
Libertá-lo do que lhe pesa.
Do que o esconde.
Expô-lo.
Mas principalmente:
Procurar entender.
Ler. Para além da superfície.
Começar com a nudez. De qualquer modo, é sempre assim que se começa. Com o mundo a exercer pressão sobre a pele. Lembrando que viemos apenas ocupar mais uma porção de vazio. Mas. Os vazios não passam de pontos de partida.



.
.
.
Pedro Jordão, in Revista NU, Março de 2004
.

imagens, Vladimir Lestrovoy
.
.

8 comments:

náufrago do tempo e lugar said...

Só a nudez é natural e autêntica; tudo o resto são disfarces, adornos, atavios, máscaras...
Falo, essencialmente, das palavras. :)


Bonito excerto.

Boa-noite!

santiago said...

é estranha a sensação que sinto quando passo por aqui.
é como quando visito os lugares da minha infância: tristeza e felicidade ao mesmo tempo...

Pedrita said...

muito lindo. beijos, pedrita

teresamaremar said...

Lugares da infância... nostalgia pelo tempo ido, e felicidade pelo que a memória conserva.
Curiosamente senti ontem isso mesmo, quando, depois de décadas, voltei à minha escola primária. Uma mistura agri-doce enquanto percorria os espaços, entre o sorriso e o nó que se apertava.

rigi said...

o passado não existe. é pó.

teresamaremar said...

:) boa noite Rigi

pode ser pó, sussuro, suave brisa,... mas existe, pois caminha ao nosso lado (para não dizer cá dentro), acompanha-nos (por vezes persegue-nos). E ainda bem que assim é, ou não teriamos história pessoal.

O passado é pó... ok, seja, pó histórico :)

obrigada por ter vindo
Boa semana

anad said...

Que belo texto.
Um abraço
Anad

Unknown said...

Magnífico! Conceptualmente irrepreensível! Uma viagem sem rede pela terra dos sonhos.
É para voltar...