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Dentro de um caixote ou dentro de um móvel de ébano precioso vou pôr a guardar as vestes da minha vida.
As roupas azuis. E depois as vermelhas, as mais belas de todas.
E a seguir as amarelas. E por fim de novo as azuis, mas muito mais desbotadas estas últimas do que as primeiras.
Vou guardá-las devotamente e com muita tristeza.
Quando vestir as roupas negras e quando morar dentro de uma casa negra, dentro de um quarto escuro, abrirei de vez em quando o móvel com alegria, com desejo e com desespero.
Verei as roupas e lembrar-me-ei da grande festa - que será nesse momento de todo finda.
De todo finda. Os móveis espalhados desordenadamente dentro das salas. Pratos e copos partidos no chão. Todas as velas gastas até ao fim. Todo o vinho bebido. Todos os convidados idos. Cansados alguns estarão completamente sozinhos, como eu, dentro de casas escuras - outros mais cansados terão ido dormir.
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Konstandinos Kavafis, in Vestes
As roupas azuis. E depois as vermelhas, as mais belas de todas.
E a seguir as amarelas. E por fim de novo as azuis, mas muito mais desbotadas estas últimas do que as primeiras.
Vou guardá-las devotamente e com muita tristeza.
Quando vestir as roupas negras e quando morar dentro de uma casa negra, dentro de um quarto escuro, abrirei de vez em quando o móvel com alegria, com desejo e com desespero.
Verei as roupas e lembrar-me-ei da grande festa - que será nesse momento de todo finda.
De todo finda. Os móveis espalhados desordenadamente dentro das salas. Pratos e copos partidos no chão. Todas as velas gastas até ao fim. Todo o vinho bebido. Todos os convidados idos. Cansados alguns estarão completamente sozinhos, como eu, dentro de casas escuras - outros mais cansados terão ido dormir.
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Konstandinos Kavafis, in Vestes
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4 comments:
Profundamente triste. E belo.
Quando estás mais longe, e a névoa sobe no horizonte para além dos montes do sonho, subo lentamente as escadas do labirinto e entro no sótão, utilizando a chave de cristal que um dia recebi da concha aberta da tua mão generosa.
Sento-me então numa cadeira de balouço muito antiga e abro as arcas, uma a uma, onde, furtivas, se enclausuraram as nossas alegrias e mágoas. Onde os doces sorrisos se confundem, nos dedáleos meandros, com a saudade que orvalha e magoa e jubila na dispersão dos dias. Na convergência dos segredos. E abro os livros velhos, para mim sempre novos, como se pétalas frescas de rosas vermelhas eternamente renovadas.
Depois, tu entras pelo silêncio da noite e sentas-te a meu lado. E sorris-me. No ardor das horas mansas que não morrem, ao som de qualquer estação de Vivaldi. Com perfumes a cravo e magnólia, lentamente rescendendo das arcas de todas as memórias. E ali ficamos, por dentro do nosso silêncio cíclico, até que Jano abra, pela alvorada azul das estrelas, um novo dia.
Profundamente belas, estas palavras peregrinas.
Pétalas frescas a perfumarem Kavafis.
Grata por elas.
Um bom dia, Peregrino.
bebo a música!!!!!
soberbo "cálice"
derreto o texto.
re-leio o comentário (belíssimo) do Peregrino.
e emigro.
de alma lavada. vestida de azul. denso.
beijo.Te.
Hora tardia esta, em que te encontro...
emigro eu, ao sabor das horas que sobram
Beijo Y
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